A VISÃO DE MUNDO DO POVO YORUBÁ
No dia 21 de janeiro comemorou-se o “Dia Mundial das Religiões”, assim sendo, julgamos oportuno e fundamental falar sobre a visão da criação do mundo físico, do ponto de vista do povo Yorubá, na busca do resgate e preservação da cultura e religiosidade de um povo milenar. Considerando as afirmativas científicas que vêm sendo publicadas com freqüência, como por exemplo: “O surgimento do Mundo a partir do Big Bang”; “O homem surgiu da argila”; “A humanidade surge acerca de cem milhões (100.000.000) de anos dentro do continente africano e começa a expandir-se para outros continentes acerca de cinqüenta milhões (50.000.000) de anos”, Podemos e devemos fazer uma correlação com o que já vem sendo dito pelo povo Yorubá, há muitos e muitos anos, conforme consta registrado no livro de DARAMOLA, O & JEJE, A. Awon àsà ati Òrìsà ile Yorubá. Ìbàdàn, Onibon – Oje Press, 1975, o qual passo a relatar. Elédùmarè/Senhor do Universo, “saturado” de tanta energia emanada por ele mesmo, “explode” e se subdivide nos Osa/Divindades: Omi/Água; Ilè/Terra; Òfúrufú/Ar; Iná/Fogo e seus desdobramentos (Odò/Rio, Òkun/Mar, Òsa/Lagoa, Òjo/Chuva, Igbó/Floresta, Aféfe/Vento, Ara/Raio, dentre outros).
Disposto a criar o Aye/Mundo Físico – vida apresentou às suas divindades duas cabaças, uma contendo uma massa negra e outra uma massa branca (hoje representada pelo Èko ou Akasa/mingau feito de fubá de milho branco), além de uma árvore denominada árvore da vida. Pondo a prova que: a divindade que conseguisse colocar uma cabaça em cada mão e a árvore na cabeça, iria criar o aye. Como nenhum dos Osa conseguiu realizar o intento, Elédùmarè, então, criou uma divindade, representação dele mesmo, ou seja, Orun+mi+ela = Universo+minha+ação => Orunmilá = Minha ação do Universo. Orunmilá tendo conseguido realizar a tarefa, recebeu o saco da existência, além das cabaças e da árvore. Atirou na imensidão do Universo a terra contida no saco da existência. Enviou um camaleão - hoje símbolo de Elédùmarè e Orunmilá - para pisar na terra, comprovando a sua firmeza, e uma galinha para espalhar a terra (ilè nfé / terra que se espalha, origem do nome da cidade de Ilé Ifè – berço da civilização yorubá). Já na terra plantou a árvore colocou as duas cabaças questionando Elédùmarè quanto aos próximos procedimentos para criação do aye.
Foi então orientado a juntar o conteúdo das duas cabaças e no dia seguinte, antes do sol nascer, deveria destapá-la, nascendo então Esu Igbá Keta - a terceira cabaça. Elédùmarè orientou-o, ainda, que sobre ele deveria jogar água todos os dias antes do sol nascer para que crescesse e se multiplicasse. Atitude hoje reproduzida no processo de iniciação. Assim iniciou-se o ciclo de criação e reprodução da humanidade. Cabendo a Orunmilá, o testemunho do destino, o controle de todas as vidas humanas no aye. Aos Osa que, como parte integrante de Elédùmarè, continuaram juntos dele, coube a tarefa de escolher a cabeça daqueles que nasciam. Logo, Orí/cabeça + Osa/divindade = Orisa. Esu, por ter sido o primeiro da existência genérica que constitui cada um de nós (argila), teve a felicidade de ter a sua cabeça escolhida por todas as divindades da natureza, recebendo o título de Enugbarijo – o boca coletiva. Muitos anos se passaram, famílias, aldeias, vilarejos, cidades e demais grupos étnicos foram sendo formados, e espalhados por todo aye, até que um dia Orunmilá se sentindo cansado e sem condições de controlar tanta gente, solicitou que os Orixás viessem até o aye para lhe ajudar.
Na solução do problema, Elédùmarè verificou em cada grupo étnico constituído, àquela pessoa que mais se destacara como Onílè/Senhor da Terra (senhor de muitos filhos e de vasto território) ou como Ìdílé/Importante personalidade da família (aquele que apesar de não ter filhos ou terras, era considerado pela família como benfeitor) a fim de dar-lhes o seu Ìpònrí (força vital) fazendo com que ele representasse o orixá que havia escolhido a sua cabeça. Assim citamos, por exemplo, a força e representação do fogo, atribuída à: Sango na cidade de Oyo; Aira em Save; Oramfé em Ifè; “Zaze em Angola”; “Elemusat na cultura Omoloko do povo Kathókee”; “Hevioso no Dahome”; etc. Estes Esa/Ancestrais foram, após a morte, divinizados pelo seu povo e hoje são reconhecidos como a representação viva dos orixás. Em cada canto desse planeta, seja na áfrica negra ou não, em qualquer cultura que reconheça a força e a importância dos elementos da natureza apontando uma divindade, existe a ação e a força vital de Elédùmarè.
Precisamos hoje, no terceiro milênio, conhecer e entender nossa cultura e religiosidade, a fim de, na qualidade de afro-descendente, continuar a luta dos nossos antepassados pela preservação e o bom nome de Odùduwà o precursor da cultura Yorubá e restaurador da Cidade de Ile Ifè, berço, não só, da cultura Yorubá, como também, da humanidade.
Professor e Olóyè Marcelo Monteiro Odearaofa, Presidente Fundador do CETRAB – Centro de Tradições Afro-Brasileiras – entidade beneficente de assistência sócio cultural, sem fins lucrativos e Sacerdote Supremo do Àse Ìdásilè Ode.
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No princípio dos tempos existiam dois mundos: o Orum, o espaço sagrado dos orisás, e o Aiyê, o espaço dos seres vivos. Os orixás são os santos do candomblé, representantes das forças da natureza, que têm ligação direta com os elementos água, fogo, terra e ar, e tudo o que está contido neles.No Aiyê, então, só existia água. Foi quando Olodumaré, Deus supremo dos yorubás, resolveu recriar o espaço para a humanidade. Para essa tarefa incumbiu seu filho primogênito, ORINSALÁ (o nome mais sagrado de Osalá). Entregou-lhe um saco (apo iuá) contendo ingredientes especiais -- a terra inicial, a galinha de cinco dedos, uma pomba e um camaleão.
A terra deveria ser lançada sobre a imensidão das águas. A galinha de cinco dedos deveria ir ciscando a terra para alargá-la o mais que pudesse. A pomba, ao voar, orientaria a extensão da terra expandida. E o camaleão, atento à tudo, observaria a execução da tarefa atribuída a Orisanilá, para reportar os fatos à Olodumaré.Assim, com seu cajado (opasorô) e o saco da criação (apo iuá) Orisanilá iniciou sua caminhada do Orum para o Aiyê, o planeta Terra habitado pelos seres vivos.
Entretanto, no meio do caminho, sentiu-se cansado e com sede. Parou para descansar e bebeu um pouco de emu (vinho da palmeira do dendezeiro).
A interrupção de sua jornada, por outro lado, era a oportunidade que seu irmão caçula, ODUDUA, precisava para competir perante os olhos de seu pai, Olodumaré, nessa tarefa de grande importância. Então enquanto Orisanilá dormia, Odudua pediu a seu pai que ele cumprisse tal tarefa, o que foi permitido.
Olodumaré, por sua vez, lhe disse com autoridade: "Assuma a missão de criar a terra dos seres vivos", o que foi feito prontamente.
Depois da galinha ciscar a terra, a pomba orientar a sua expansão e o camaleão verificar se a tarefa foi cumprida, no terceiro dia Odudua criou a terra firme, que passou a chamar-se ILÊ IFÉ (que no idioma iorubá significa "terra que foi sendo ciscada").
Criou ainda, do barro e da água, bonecos inanimados de todas as formas e de todas as cores esculpidas por suas mãos. Orisanilá mostrou-se, perante o pai, arrependido do seu ato de irresponsabilidade.
E para que não se sentisse tão humilhado, Olodumaré resolveu, em um supremo ato de inspiração, dar a Orisanilá outra tarefa de tanta importância quanto a primeira, e ainda mais nobre: a de conceber a vida nos bonecos inanimados. E assim ele soprou nas narinas do boneco de barro, criando os seres humanos.
Esse sopro da vida é chamado pelos iorubás de emi. Assim, Odudua é o criador de Ilê Ifé, primeira cidade do mundo para os iorubás.
E Orisanilá é o concessor da vida, aquele que ela dispõe, por ter criado os seres humanos.
Havia uma mulher estéril que insistia em ORISALÁ (divindade mestra da criação dos seres humanos), para que pudesse gerar um filho, diante da insistência ele permitiu com a condição de este filho, jamais pudesse sair do AIYÉ. O garoto ao atingir puberdade, despertou a curiosidade de ir ao Orún, um dia fugiu de casa, ultrapassou os limites do aiyé e entrou em orún gritando e desafiando Orisalá , atravessou os vários espaços que compõe o Orún até chegar em Orisalá. Este irritado lançou seu òpàsòro (cajado) que veio cravar-se em aiyé, separando-o para sempre de orún e entre os dois apareceu o SANMÒ (céu-atmosfera).Existem nove espaços de orún (quatro deles situados sob a terra).Um dos nomes mais conhecidos de OYÁ IGBALÉ (igbalé= voltar à terra, aquela que varre a terra )patrona dos mortos, é YÁSAN que deriva do seu ORÍKI: IYÁ-MESAN-ÒRUN - Mãe-dos-nove-òrun. É também saudada como Alákòko, senhora do òpákòko, tronco ou ramo da árvore akòko, tronco ritual que liga os nove espaços do orún ao aiyé, e o "assento" consagrado onde serão invocados ao ancestrais.
Ancestralidade
Na Cultura Jeje-Nagô ,a vida não se finda com a morte. Àtúnwa, É O Nome Dado Ao Processo Divino De Existência Única:
A Continuidade Da Vida. Olodumarê , O Supremo Deus Yorubá
No Momento Do Nascimento Oferece Aos Homens Um Conjunto De Forças Sagradas Que Possibilita A Vida.São elas:
Ara: O Corpo Físico Vindo Da Lama. Ese: Elementos Do Organismo Humano. Okan: Coração Físico E Espiritual - Órgão Que Centraliza O Poder De Vida E Sede Da Inteligência, Do Pensamento E Da Ação. Ojiji: Essência Espiritual. Emi: O Sopro Divino De Vida. Ori: A Individualidade E A Identidade. Odu: O Destino E O Caminho A Ser Percorrido. Asé: Força Movimentadora Da Vida. Orisá: Guardião De Cada Existência Humana.
Todos Estes Aspectos Não Morrem...Voltam As Suas Origens, Isto É, Ao Orun, Pois Pertencem A Olorun E Só Ele Pode Liberá-Las. Estas Forças Divinas, Animaram Os Antepassados, Os Ancestrais, As Raízes Mães Do Asé Orisá, Ao Partirem Do Aiyê E Voltam Ao Aiyê Para Animar Seus Descendentes E Discípulos. A Ancestralidade Confirma A Imortalidade, Pois A Vida Continua No Orun Como Ancestrais.Do Orun A Ancestralidade A Tudo Assiste.No Culto De Orisá, Ancestrais Significa:"Aqueles Que Um Dia Tiveram A Energia De Vida No Aiyê E Que Cuja Energia De Vida É Repassada As Novas Gerações, Garantindo A Continuidade Da Vida E Do Culto Aos Deuses Africanos. "Como Conclusão A Vida Presente Depende Da Vida Passada De Nossos Ancestrais.ÌKÚ - MORTE
É visto como um agente criado pôr olódùmarè para remover as pessoas cujo tempo na Terra tenha terminado. A morte é denominada Ìkú, e trata se de um personagem masculino. Sua lógica é para as pessoas mais velhas, e que, dadas certas condições, devem viver até uma idade avançada. Pôr isso , quando uma pessoa jovem morre, o fato é considerado tragédia; pôr outro lado, a morte de uma pessoa idos é ocasião para se alegrar. Sobre isto, costuma se dizer Ikú Kí pani, ayò Io npa ni a morte não mata, são os excessos que matam. O odú òyèkú méji revela, em um de seus ìtàn, que a morte começou a matar depois que sua mãe foi espancada e morta na praça do mercado: No dia em que a mãe da morte foi espancada No mercado de Ejìgbòmekùn A morte ouviu E gritou alto, enfurecida A morte fez do elefante a esposa de seu cavalo Ele fez do búfalo sua corda Fez do escorpião o seu esporão bem firme pronto para a luta.
Posteriormente, a morte foi subjulgado depois que seus inimigos conseguiram que ela comesse o que era proibido comer, segundo o conceito do èwò, visto anteriormente ,só conhecido através do jogo de ifá. Neste relato, é a esposa de Ikú, Olójòngbòdú, que revela este segredo:
Nós consultamos Ifá para Olójòngbòdú Mulher de Ikú Ela foi chamada cedo, pela manhã Eles perguntaram o que seu marido não podia comer Que o tornasse capaz de matar outros filhos de pessoas ao redor?
Ela disse que a Morte, seu marido, não podia comer ratos Eles perguntaram o que aconteceria se ele comesse ratos? Ela disse que as mãos da morte tremeriam sem parar Ela disse que a Morte, seu marido, nào podia comer peixe
Eles perguntaram o que aconteceria se ele comesse o peixe? Ela disse que os pés da Morte tremeriam sem parar Ela disse que a morte, seu marido, não podia comer ovo de pata Eles perguntaram o que aconteceria se ele comesse ovo de pata? Ela disse que a morte vomitaria sem parar. A conclusão deste odú é que foram dados á morte todos os alimentos proibidos, o que a fez acalmar e impedir a sua tarefa que estava sendo feita sem qualquer critério, ou seja, a Morte foi subjulgada apenas depois que seus inimigos conseguiram que ele comesse o que era proibido comer. Verificamos novamente a importância do respeito ás coisas proibidas, éwò, cujo conhecimento só é possível através do sistema de ifá. Devemos registrar que, no processo de divinização de ifá, ocorrendo a caída deste odú, irá revelar vitória de qualquer pessoa sobre a morte. Embora a morte seja inevitável, e imprevisível, vimos que ele pode sofrer alterações através da intervenção de Òrúnmìlá ou de qualquer outro òrísà junto a Olódùmarè, e isto é previsto em outro mito, quando Èsú consegue subornar o filho de Ikú, que revela o modo pel qual Ikú matava com o uso de uma clava a fonte indispensável de seu poder. Sem essa clava , Ikú tornava se impotente. Èsù foi ajudado pôr Ajàpàá, a tartaruga, que conseguiu o que desejava, conforme o dito Ajàpàá gbé òrúkú Iowó Ikú A tartaruga tirou a clava das mãos de Ikú. Posteriormente, fez um pacto com Òrúnmìlà, com a condição dele ajudá- lo a recobrar a sua clava; em troca, Ikú só levaria aqueles que não se colocarem sob a proteção de Òrúnmìlà ou aqueles que estivessem com a data já determinada para o fim de suas vidas na terra. Isto reflete a necessidade de um constante acompanhamento da situação de uma pessoa atraves do jogo. Daí o provérbio Arùn Ia wò, a Ki Wo Ikú A doença pode ser curada a morte não pode ser remediada. E ainda o odú Irò-sùn oso revela: Se Ikú não chegar, adoremos Òsùn Se Ikú não chegar, adoremos Òrìsà Se ikú realmente chegar, não adianta Ikú receber sacrifício.